Por que me tornei vegetariana: Raquel
Do carnismo ao veganismo em duas semanas (ou minha jornada interior)
Quando eu era bem pequena, dava voltas e voltas no quarteirão onde ficava a casa de praia da minha prima para podermos, eu e ela, conversar e dar amor e carinho para uma pequena plantinha verde-clara que estava desabrochando num canteiro de uma casa colorida. Quando ganhei minha primeira cachorrinha, a Tutty, tudo o que eu queria era dar para ela todo o amor e a devoção que ela demonstrava por mim. Eu vivia numa redoma de amor e de cuidado criada por algo maior que tudo.
Em algum nível, eu sempre me senti estranha ao ver uma lagosta presa pelas pinças e colocada viva numa panela fervente. Sempre me senti incomodada em ver aqueles caranguejos amarrados um em cima do outro para vender na estrada da Praia Grande para São Paulo quando voltava das férias com a família. E sobre rodeios. E sobre hipismo...
Mas nunca tinha pensado sobre os animais atrás das jaulas nos zoológicos ou nos aquários pela cidade. Nunca tinha pensado nos animais que escolhemos como pets e a diferença que eu fazia quanto àqueles que estavam no meu prato, cheirando bem e com aquele gosto bom (temperado, claro). Nunca tinha pensado no que o meu sanduba era na realidade.
Meu irmão, então, já consciente de muita coisa nessa vida, sugeriu que eu assistisse ao documentário Cowspiracy. E foi aí que tudo começou a se esclarecer na minha mente.
O primeiro choque foi descobrir o impacto ambiental de se comer carne. Da quantidade de água que é usada para se produzir meio quilo de bife. Devastação ambiental, desmatamentos, indústria pecuária. E, quando terminei de assistir, tinha decidido que alguma coisa no meu estilo de vida tinha que mudar. Sem pensar duas vezes, passei duas semanas sem comer carne.
Depois de muitas pesquisas e outros documentários, artigos, vídeos e palestras on-line (veja lista ao final do depoimento), aprendi um pouco mais sobre o que envolve retirar produtos de origem animal da dieta. Sobre questões de saúde. Sobre a indústria dos laticínios e dos ovos e o que ela significa tanto para o ser humano quando para os animais. Sobre o carnismo e sua estrutura psicológica social.
Senti profundamente uma compaixão que não sentia há muito tempo. Senti pelos animais que estavam sofrendo e morrendo para eu ter prazer ao comer. Não só pela morte deles, mas pelo seu sofrimento contínuo antes do abate final.
E foi por isso que, além da carne, entendi que o certo a fazer era cortar todos os produtos que tinham origem animal da minha dieta. Era o que fazia sentido para mim.
Exatamente nesse momento, me deparei com a página Vegan Challenge no Facebook, como se o Universo soprasse de volta a vibração que eu estava emanando. E estava mesmo. O desafio era o de me alimentar sem produtos de origem animal, completamente vegana, por uma semana. Um pequeno e claro objetivo.
Assim como estava claro que ter compaixão pelos animais era o certo para mim, ficou claro muito rapidamente que eu não conseguiria e não queria mais voltar a comer como eu comia antes. Sempre que aparecia a oportunidade de comer algo que seria normal para mim uma semana antes, tudo o que eu tinha lido, visto e sentido vinha à tona imediatamente, e a vontade de sentir aquele prazer momentâneo desaparecia. E é assim até hoje.
Então faz cinco meses que não como carne e quatro meses que me tornei vegana. Não é fácil socialmente, não é fácil no meu dia a dia. Mas a escolha que fiz vai muito além de mim, da minha zona de conforto. Minha aversão à dor, ao sofrimento e à morte é a mesma que a daqueles animais que são escravizados para que possamos ter prazer à mesa.
Descobri que gosto de cozinhar de vez em quando, criar pratos nutritivos e saborosos sem crueldade, cheios de vida. Descobri que cuidar do meu bem-estar também pela minha alimentação é recompensador e libertador, porque essa escolha consciente é mais do que saber que estou fazendo a minha parte em prol dos animais e do meio ambiente. É descobrir que aquela menina que dava carinho para uma plantinha na esperança de que ela crescesse forte e saudável da mesma forma que para sua primeira amiga canina está sempre dentro de mim e é a minha essência e o meu propósito nesse mundo.
Algumas sugestões:
• Cowspiracy (Netflix)
• Forks Over Knifes (Netflix)
• Food Matters (Netflix)
• GMO OMG (Netflix)
• Fat sick and nearly dead (Netflix)
• Milk (Netflix)
• Vegucated
• A Carne é Fraca
• Palestra do ativista Gary Yourofsky
• Canal Bite Size Vegan no Youtube (tudo sobre veganismo – em inglês)
• Palestra do médico Dr. Greger sobre nossa dieta e as causas de morte e doenças (livro “How not to die”)
• Palestra e livro da Dra. Melanie Joy sobre carnismo (“Why we love dogs, eat pigs and wear cows”)
Raquel Benchimol Rosenthal