Por que me tornei vegetariana: Ariadne
Sem carne, na iniciação à purificação Nunca tive grandes amores por carne vermelha. Aos 16 anos, parei de comer, depois voltei, depois parei de novo e voltei. Mais pela dificuldade cotidiana de quem trabalha 12 horas por dia e não tem tempo nem criatividade para inovar. Quando fiz minha primeira iniciação ao Buda Vajrasatva e fiquei em retiro de quatro dias no templo Kadampa Brasil, em Cabreúva, alguma coisa mudou em mim. Quatro dias sem carne, sem álcool me fizeram bem. Quando saí de lá, resolvi manter a purificação por mais 21 dias, depois por três meses, depois por esses quatro anos. Voltei a beber algo alcoólico seis meses depois, mas sigo firme na abstenção à carne vermelha. Não sinto falta, não gosto, não me atrapalha em nada essa resolução. Parece que nunca comi. Continuo a tomar minha injeção de B12 mensal, a repor o ferro (já fazia isto antes, pois sou celíaca) e acrescentei vitamina D ultimamente. Aos 45 anos, não tenho colesterol alto, nem hiperglicemia, nem pressão alta, nem labirintite, nem nada. Não faço esforço para não comer carne. E, apesar de amar os bichos acima de tudo, não é essa pegada que me toca mais. Acontece que não quero colocar em meu organismo algo impuro, não quero matar animais para me alimentar, não quero comer hormônios e outras porcarias injetadas nos bichinhos. Vajrasatva talvez me mostrou que não precisamos de nada disso. Vajrasatva me mostrou como somos compelidos a ter hábitos inconscientes nocivos. Não fumo também e, às vezes, penso em abandonar o álcool de vez. Sigo firme na meditação diária e na tentativa de ter pensamentos saudáveis, de não prejudicar nenhum ser senciente. Meu primeiro conselho é procurar uma nutricionista vegetariana. Depois, um clínico que saiba pedir os exames para saber se você está saudável e precisando de reposição. Nesta época também abandonei a pílula anticoncepcional, outro veneno. Engordei uns dois quilos, mas sou mais feliz. Meu cabelo cresceu, tenho pique para a corrida e yoga. Sou mais feminina também. Meu outro conselho: não seja chato. Não come, não come. Se vai jantar na casa dos amigos, coma salada na boa. Leve um prato. Não imponha suas restrições aos seus filhos (cozinho carne para os meus dois adolescentes – com nojo, mas cozinho), seja leve. Não tem coisa mais sem-graça que vegetariano chato. Quando meus filhos forem estudar fora, vou abandonar os outros vícios também, mas garanto: ser uma pessoa decente, honesta, amiga, ética exige muito mais esforço que deixar de comer carne. Se quiser ir pro retiro de Vajrasatva, te garanto: este Buda vai mexer com você!
Ariadne Gattolini, jornalista e escritora