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Por que me tornei vegetariana: May

De repente tudo parou de fazer sentido, ou mudou de sentido, na verdade.


Até alguns anos atrás eu não era ligada em animais, pois quando criança não tive a oportunidade de crescer com pets por perto, apesar de secretamente sempre amar os gatos. Eu sabia que na minha casa um gato nunca seria permitido, então sufoquei este amor até o dia em que fui morar sozinha e adotei o Panqueca.


Todos os dias, quando olho para ele, além do maior amor que já senti por alguém que não é da minha família humana, sinto também uma imensa gratidão pela mudança que ele realizou em minha vida. Mesmo sem a consciência disto, o Panqueca tornou-se um limiar, um separador de águas entre a minha versão mais antiga e aquela que sou hoje. O grande responsável por uma grande evolução e melhoria na minha vida e na vida daqueles que me cercam. Tenho certeza de que ele me tornou uma pessoa melhor.


Tudo começou quando entendi o que é se ser responsável por um animalzinho - o amor, o companheirismo, o riso e as alegrias que nascem com esta relação, além da dependências que eles tem, sim, de nós. Todos.


A partir disto todos os gatos e cachorros de rua nunca mais cruzaram meu caminho sem serem percebidos ou sem causarem algum “estrago”. Quantas vezes não chego em casa, uma casinha pequenina e hoje habitada por mais 3 gatos além do Panqueca, com algum ou alguns bichinhos que cruzaram o meu caminho e que tiveram a sorte de serem notados? Já são 5 anos resgatando, cuidando, encaminhando, adotando, cuidando em praças públicas, castrando, doando e transformando pequenas vidinhas e vidas humanas também.

Animal nenhum pertence as ruas. Animal nenhum foi feito para atravessar ruas, perambular no meio de carros, pessoas, fuçar lixo e morrer de frio em ponto de ônibus. Nem animal humano e nem qualquer outro.

Os outros 3 irmãos do Panqueca não sabem, mas devem à ele o teto sob suas cabecinhas e todo o amor que dou para eles, indiscriminadamente.


A primeira grande mudança então que o Panqueca causou foi o despertar de uma compaixão e um amor tão profundos que chegam também carregados de responsabilidade e quebra de paradigmas, pois, além de me permitir amar outras espécies tb e ver que quase todas elas, quando criadas com amor, alimentadas adequadamente e estimuladas da maneira certa, respondem na mesma medida a dedicação e o carinho nelas investidos; também me fez questionar o porquê achamos ultrajante comer cachorros e gatos, mas achamos OK e normal comer vacas, porcos, galinhas, perus, peixes, coelhos e tantos outros animaizinhos que, dentro do pensamento comum coletivo, são feitos para serem comidos. Ah, a porcaria do argumento da cadeia alimentar...


Este pensamento, baseado no amor e existência do Panqueca, me levaram a segunda grande mudança da vida: abrir mão de alimentos que sempre me proporcionaram um imenso prazer por não achar absolutamente justo privar estes seres sencientes da vida que lhes foi dada para usufruírem livres de cárceres, torturas, medo e sofrimento apenas para satisfazer o meu paladar.

É muito vil.


Pensar que eles sentem amor, que eles sentem medo, que eles entendem que estão presos e que sentem a ansiedade da morte quando o momento do abate chega me destrói todos os dias, apesar de eu saber que, para a minha mesa eles não vão, que meu dinheiro não financia esta máquina da morte e do sofrimento.


É apenas uma pequena gota no imenso oceano de sofrimento e injustiça que nós causamos a eles todos os dias das mais diversas maneiras, eu sei, mas o muito, quando desmembrado, chega sempre em vários poucos e é nisto que eu acredito. Não me venham com argumentos para diminuir a minha escolha ou para tentarem me mostrar que no fundo nada muda. Muda, sim. No meu mundo e através do exemplo no mundo de quem me cerca.


Hoje já são quase 5 anos desta escolha feita e posso dizer que ela não tem volta, mas também posso dizer que não foi e nem é fácil para mim todos os dias.


Meu paladar é extremamente carnívoro. Importante ressaltar – meu paladar, não eu, que sou humana e onívora, como todos os outros.


De vez em quando, quando aquela linguicinha linda passa no churrasco, quando aquele bifinho cheiroso está diante dos meus olhos, preciso conscientemente me lembrar de quem eles são. QUEM ELES SÃO. Eles não são produtos em bandejas nas prateleiras do supermercado. Eles são alguém. Eles tinham VIDA.


Basta um segundo de pensamento para que o meu desejo logo passe e eu me sinta 100% convicta da escolha que fiz. Eu não mereço me alimentar da morte de ninguém. Quem sou eu, que valor tenho eu?


O vegetarianismo, para mim, é uma escolha muito pessoal. É um estilo de vida que deve vir do profundo de cada coração, pois entendo que as pessoas possuem diferentes motivos para optarem por pararem ou diminuírem o consumo de carnes, mas para mim o que basta é o amor.


É amor pela criação, é o amor por todos os seres que sofrem, sangram, doem e amam também. É o amor por aqueles que, assim como eu, possuem o direito de viverem livres, protegidos e respeitados, independentemente de suas espécies e participação na sociedade. Nenhum ser deve nascer para morrer. Nenhum. Eu amo todos eles. Eu não tenho o direito.


May Edelstein


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